Já nasceu

Desculpem, estou em falha para convosco.

A nossa princesa já nasceu. Com 3,195kg e 48cm

Nasceu 10 dias antes da data prevista porque eu perdi líquido amniótico.

Graças a Deus foi tudo detetado a tempo, provocaram o parto, o corpo não reagiu por isso fizeram cesariana.

A nossa princesa nasceu saudável e agora somos 3. Temos a nossa família completa!

Gastámos algum bastante dinheiro e andámos 4 anos a lutar. Se valeu a pena?

Não há dúvida que sim!

Valeu a pena toda e cada viagem para Coimbra, Porto e Lisboa com mais ou menos esperança!

Valeu a pena cair e voltar a levantar!

Valeram a pena as 2 interrupções de tratamento, a não fecundação e o negativo para terminar com o positivo!

Valeram a pena o descolamento de placenta, as preocupações com alimentação por causa da toxoplasmose e a perda de líquido amniótico para ter agora a nossa guerreira nos nossos braços!

Só percebemos o quão fortes somos quando nos colocam à prova.

Agora, olhando para trás, percebemos que tanto nós como a nossa princesa fomos mesmo uns guerreiros. Nunca desistimos e agora estamos juntos, agora somos uma família de três!

Serve a nossa história para vos mostrar que é possível! Que não devem desistir.

Enquanto tiverem dinheiro [infelizmente sem dinheiro não se consegue nada quando falamos de infertilidade] não desistam! Acreditem que tudo vale mesmo a pena!

Como já tinha dito, este blogue deixa de fazer sentido porque a luta contra infertilidade acabou [graças a Deus] mas não o apago. A nossa história fica aqui publicada e o email deste blogue continua ativo.

Qualquer coisa de que precisem não hesitem. Eu continuo deste lado para vos ler e ajudar no que puder!

Afinal também se vendem filhos

Quando me dizem:
– Em vez de arranjarem um filho, arranjaram outro cão.
Preparei a resposta-perfeita:
– Eu procurei ‘bebé’ no olx mas não havia, tive de arranjar o cão. 
Afinal esse argumento deixou de ser válido na madrugada de dia 13 de junho, como podem ler aqui.
Eu acredito seriamente que tenha sido uma brincadeira, mas foi de muito mau gosto..

Su-rre-al

É o melhor adjetivo que encontro para a consulta de hoje (se é que aquilo que se passou hoje se pode considerar consulta).
Pois que estava marcada para as 11h30, chegámos às 11h33.
Estacionamento é mentira, havia imensos carros parados junto ao passeio e um Sr polícia a apontar todas as matrículas.
Após 1h na sala de espera lá entrámos e a consulta foi apenas para dar o resultado da anti-mulleriana – 0,6 [Os resultados podem variar mas o ideal seria que o valor fosse 2] e informar que o caso vai ser levado a nova reunião só para esgotar possibilidades e não dizermos que desistimos. Basicamente é por descargo de consciência. Até porque temos direito a três tentativas no público e teoricamente ainda não fizemos nenhuma porque nenhum dos três tratamentos chegou à transferência.

Posto isto, referi que a enfermeira tinha falado na questão da ovodoação, ao que a doutora respondeu “sim, tem a possibilidade da ovodoação ou da adoção”. E que, normalmente transferem para ovodoação mulheres com cerca de 38 anos (quase a atingir a idade limite para tratamentos no público).
Fiquei sem perceber o que aconteceria depois desta última  tentativa, caso o tratamento voltasse a ser interrompido..
Agora vou tentar entrar em contacto com um médico do Porto para pedir uma segunda opinião sobre fazer ou não esta última tentativa em Coimbra.
E foi surreal porque? Porque vivo a cerca de 150km dali [300 ida e volta] e, na minha humilde opinião, uma informação destas podia ser dada por telefone mas tudo bem..

Sobre a ovodoação, a única coisa que a doutora referiu foi que só se faz no Porto (como tinha dito a enfermeira) e que as listas de espera são de 2/3 anos (como já tinha lido no demaeparamae.pt) rematando que “as listas de espera são de 2/3 anos mas vocês ainda são novos, não é nada por aí além”. Claro que não aliás, nós andamos em tratamentos agora para ter um filho daqui a meia dúzia de anos claramente (ok, sabemos que havendo problemas de infertilidade pode acontecer mas não esperamos estar 2/3 anos em standby, esperamos ir tentando).
E hoje foi isto. Mais uma desilusão para juntar à lista 😦  

Porquê?

Caso 1: Engravidou aos 17. A filha foi criada com a ajuda dos avós maternos. Deixou-a com meses para ir para a viagem de finalistas. Aos 20 foi para o ensino superior, a 100km de casa. Deixa-a com os avós durante a semana e está com ela aos fins de semana. Basicamente, na prática, é uma irmã que a chama de mãe.

Caso 2: Uma senhora trás consigo uma cicatriz feita há pouco tempo pelo marido, agora de pulseira eletrónica proibido de se aproximar dela e dos filhos. O mais velho com sete anos. Uma bebé que não terá mais de 1 ano.
Há uns dias passei pela senhora, está grávida pela terceira vez.

Histórias destas haverá por esse mundo fora.
Depois há as outras histórias, as histórias como a nossa.

Nosso caso: Um casal adulto com a vida minimamente organizada. Não somos ricos mas não passamos dificuldades. E andamos de médico em médico para tentar ter um filho. UM!
Sou católica. Acredito em Deus mas às vezes pergunto-me se Ele estará a dormir. Ou se andará distraído na distribuição de filhos..
Não consigo perceber que mal Lhe terei feito para não poder ter filhos de forma natural?

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Quantos filhos?

Penso várias vezes sobre o assunto. Por um lado acho importante ter dois filhos e com idades aproximadas.
para ser sincera adorava ter 4 ou 5 filhos mas a vida não é um conto de fadas e tenho plena consciência de que não tenho condições para tal.
Por outro, a qualidade de vida de um único filho é bastante maior.
No meio disto tudo há também outra questão.. Exatamente, o maldito Kallmann! Aquele que não me deixa ser mãe de forma natural.
É psicologicamente muito doloroso passar por este tipo de tratamentos. Há muitas incertezas, muitas dúvidas, muitos medos.
Com os tratamentos, a probabilidade de gémeos aumenta. Se gostava de ter gémeos? Talvez não fosse o ideal mas seriam extremamente bem vindos.
Pondo a questão dos gémeos de lado e acreditando que um dia (sabe Deus quando) o tratamento vai dar resultado, será que conseguia passar por tudo outra vez? Não sei.
Adotar? Se a vida assim o permitir talvez..
[Já são sonhos demasiado à frente eu sei, mas isso fica para outro post]
Por enquanto estamos juntos os dois a tentar ser três.

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O custo (psicológico) da infertilidade

Ando irritada. Por nada em especial, apenas porque sim. No fim de semana queria vestir-me em condições para o Smurf. Acabei com um ataque de nervos porque nada me fica bem. Eu sei que é por causa da medicação. E também sei que desistir está fora de questão. Mas custa-me estar assim fisicamente e custa ainda mais sentir-me tão frágil.  É que além de ficar nervosa por nada, às vezes também choro sem razão. Começo a perceber porque dizem que estes tratamentos custam. Fisicamente não tenho razão de queixa (e ainda bem). Psicologicamente já é outra história. Até agora não tinha sido assim. Talvez por andar em tratamentos só por uma questão de procurar soluções antecipadamente. Agora tudo mudou. Já quero mesmo engravidar! Antes também queria mas era mais numa de “se tem de ser com ajuda médica começamos já a tentar. Se vier já melhor, se não ainda somos novos e voltamos a tentar”. Aliás, houve alturas em que cheguei a ver algo positivo no meu síndrome: o facto de saber que ia precisar de recorrer a técnicas de reprodução assistida para engravidar. Assim, não precisámos de tentar engravidar durante 1 ano para sermos considerados inférteis e pudémos procurar ajuda antecipadamente. Agora já começo a sentir que não tem nada de positivo e que vou desanimar se o resultado for negativo. Já não penso “ainda somos novos”  porque, sinceramente acho que já estamos na idade ideal. Agora estou na fase em que já teríamos começado a tentar mesmo que eu não tivesse qualquer problema. Já só quero que resulte o mais depressa possível. E talvez seja por isso que considero o tratamento mais doloroso. Não esquecendo o facto de estarmos a recorrer à medicina para algo que deveria ser natural. É que até isso antes não me incomodava e agora já me faz confusão.. Começa a ser complicado lidar com tudo. E uma coisa é certa, desistir está fora de questão! image

Grávidas

Depois de ler e comentar sobre o assunto decidi escrever sobre o ele.
Num país com tão baixa taxa de natalidade não sei de onde saem tantas grávidas.
Como já referi, estamos a viver na vila dele e, dado as nossas idades, já muitos amigos dele são pais (sejam da mesma idade ou com poucos anos de diferença).
Mas bolas, este ano deu-se aqui um baby boom que eu chego a pensar que mesmo sem ninguém saber tenho alguma responsabilidade no assunto. Parece que decidiu tudo engravidar na altura em que andamos a tentar.
No início ficava super contente sempre que sabia da gravidez de alguém. Se conhecesse (e sim, conheço várias) dava os parabéns e ficava mesmo muito contente por elas.
Agora, sinceramente, cheguei ao ponto em que fico feliz por elas na mesma [pelo menos até hoje tenho ficado sempre] mas logo a seguir é inevitável pensar “bolas, toda a gente engravida menos eu”.
Acho que é normal..
Ao princípio sabemos que os tratamentos são incertos e demorados mas temos esperança.
Depois, além de continuarmos a saber, começamos a sentir na pele a incerteza e a demora.. E começa a custar o facto de vermos outras pessoas engravidar naturalmente e nós em tentativas e mais tentativas.
Para evitar olhares de pena criei uma máscara e sempre que alguém me pergunta por filhos finjo ainda não querer saber e digo que ainda sou muito nova.. E essa máscara custa cada vez mais a colocar.
Inicialmente custava porque detesto mentir. Depois habituei-me a dizer sempre as mesmas coisas e já saía quase naturalmente – isto saber que numa vila tudo se espalha mais depressa do que no correio da manhã ajudou imenso. Agora já começa a custar a sério. O desejo do filho é cada vez maior, o intervalo/duração dos tratamentos nunca mais acaba. Depois, cereja no topo do bolo, é uma grávida perguntar “então e tu, quando te decides?”
Parecendo que não custa, e custa cada vez mais..

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Não é possível

E quando alguém diz “olha que isso nunca se sabe. Às vezes uma pessoa engravida sem estar à espera” ??

Eu sei que é verdade. Sei que há pessoas que andam em tratamentos que dão negativo e depois, sem esperarem, engravidam!
Mas esse não será o meu caso. Eu não produzo ovulação sem estimulação!
E só isto chega para saber que não há milagre possível.
Hoje disseram-me esta frase e nem sei bem o que senti…
Não era bom. Era ótimo! Mas no meu caso, infelizmente, é impossível!
O que eu tenho não é um problemazinho hormonal. Eu tenho um problema hormonal raro!
Ter um filho não vai acontecer se eu não fizer tratamento para isso!
O que eu mais queria era poder ter um filho de forma normal mas não posso e não há volta a dar 😦

E filhos?

Saímos pouco à noite. De dia vamos sempre ao mesmo café, onde não há muita gente.
Ultimamente, sempre que alguém nos põe a vista em cima parece que é tudo combinado.
Todos fazem a mesma pergunta ‘então e filhos?’
[Escusado será dizer que essas pessoas não sabem que eu tenho Síndrome de Kalman]
Opah será que estas pessoas não têm mais nada na cabeça?
A vida é só filhos? Um casal só é feliz depois de ter filhos?
Não existe felicidade a dois?

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É que se ser apenas dois fosse nossa vontade se calhar nem tínhamos problemas em responder. Talvez até dessemos uma resposta torta.
Mas, quando nós queremos mas não conseguimos custa estar sempre a ouvir o mesmo.
Sempre a fingir que nós é que ainda não queremos.. A fingir que a pergunta não afeta. A inventar desculpas de querer viajar [nós que devemos ser as pessoas mais sedentárias à face da terra] e de eu ter apenas 25 anos [quando na realidade é ótima idade para não virmos a ser pais que parecem avós na adolescência dos filhos]

E pior. No último dia em que isto aconteceu estávamos no mesmo espaço mas em sítios diferentes. Eu estava ocupada, ele a assistir.
Conclusão: foi a ele que lhe fizeram a pergunta 50 mil vezes.
E ainda me custa mais sabe-lo pela boca dele. É que ele não tem qualquer problema. Ele ao lado de outra mulher já podia ter um filho. Como já têm a maioria dos colegas da idade dele, e até mais novos..
E custa-me saber que ele tem de fingir que não quer ter filhos só para não ter de responder ‘andamos em tratamentos porque ela tem um problema hormonal’
Começo a odiar este síndrome cada vez mais!
E começo a odiar cada vez mais as pessoas meterem-se assim nas vidas dos outros [apesar de saber que não é por mal, porque ninguém sabe].

A maternidade e a paternidade

Ser mãe. Ser pai. Ter um filho. Não devia ser um problema. Devia ser algo natural para TODOS os casais que realmente desejassem.

Resultado do amor de um casal. Todo um acontecimento natural. Não um processo de tratamentos médicos.

Uma mulher só deveria ir ao hospital para dar à luz. Não para tomar hormonas.

Mas neste mundo cruel e injusto em que vivemos nem sempre acontece o que desejamos. Nem sempre a vida é justa.

Nem todas as pessoas são (totalmente) normais. Milhares de pessoas têm problemas de fertilidade.

E, tal como nós, vivem em função de um sonho. Mulheres condicionadas pelos tratamentos necessários à sua realização.

O sonho da maternidade!

Difícil de alcançar por tantos casais. Acidente indesejado de tantos outros.

É revoltante conhecer casos de filhos indesejados. Gravidezes que simplesmente aconteceram. Nascimentos que pouca ou nenhuma atenção recebem. Crianças abandonados. Ou entregues para adoção.

E nós, tantos outros casais com o desejo da maternidade. E problemas de fertilidade a dificultar o nosso caminho. A criar obstáculos que temos de ultrapassar.

É só e apenas mais uma injustiça deste mundo! Mais uma de tantas outras a que diariamente assistimos. Mais uma com que temos de lidar.

E enquanto não alcançamos o nosso sonho continuamos a lutar. A tentar. Fazendo tudo o que nos é possível. Um tudo que nem sempre é suficiente.

Lutamos com todas as nossas forças. Percorremos o caminho incerto dos tratamentos. Lutamos contra as baixas probabilidades de resultado positivo.

Nós estamos apenas no princípio. Não sabemos qual vai ser o tamanho desse caminho.

Temos esperança que seja curto. Temos medo que seja longo.

Trazemos conosco a esperança e a fé de alcançar o nosso sonho. E o medo de nunca o conseguir.

Juntos vamos lutar. Juntos vamos tentar.

Juntos os dois…

Com o desejo, a fé e a esperança de, um dia, passarmos a ser três!